Em “Talk Too Much” Carmen aborda seus temas cotidianos como uma banda e conta algumas histórias de amor
- Artista: Carmen
- Álbum: Talk Too Much
- Lançamento: 08/01/2019
- Selo: Independente
Nota: 7,9/10.
Após hitar no Twitter em uma postagem ingênua, onde a banda divulgava a versão física de seu primeiro disco “Youth Culture” – esse que conquistou muitos fãs e fez um certo sucesso – Carmen começou a trabalhar em seu novo álbum.
A banda contava com quatro integrantes, mas o guitarrista Jairo a deixou e Carmen agora conta apenas com Matheus Costa (Vocais/Teclado/Guitarras), Lucas Serra (Baixo) e João Vitor Alves (Bateria).
“Talk Too Much” é o segundo álbum da banda, produzido inteiramente de forma independente por seus integrantes. Diferente de “Youth Culture” – que esbanja referências à Arctic Monkeys e Joy Division – este soa um pouco como The Horrors, Blondie ou talvez HalfNoise, mas de forma sutil. Há uma pitada de psicodelia entre os riffs de guitarra que torna tudo diferente.
O disco consegue transmitir um sentimento de calma, sendo perfeito para ouvir durante uma viagem de ônibus, ou enquanto lemos um livro. Até em suas canções mais enérgicas a banda consegue transmitir uma sensação outonal.
Carmen tem o poder de soar como uma banda britânica dos anos 80, e isso é transmitido de várias formas dentro de seu conceito. Seu próprio estilo musical, o visual da banda e principalmente suas letras.
O álbum é aberto com “Gameboy”, que é na verdade um pequeno, e hilário, monólogo sobre encontrar alguém que o complete de alguma forma. Na faixa em si o narrador, que está alterado, fala sobre como soube que uma garota estava apaixonada por ele, pois estar junto dela era como uma nostalgia. E é daí que vem o contexto de “Falar muito”, apresentado no título do álbum – e a nostalgia é retratada com a capa do disco.
“Meeks” é realmente a primeira música do álbum, e tem uma marcação de baixo maravilhosa, que é acompanhada da guitarra e dos vocais de Matheus. A letra mescla situações da vida onde somos reféns das opiniões alheias, e essas nem sempre ajudam. Essa também fala sobre superar uma pessoa que já foi muito querida.
“The Big Come Up” é uma carta aberta sobre como é para os membros da Carmen se sentirem tão expostos. Na letra até é explicado o motivo pelo qual as músicas são todas em inglês. A voz apaga do vocalista soa indecisa em meio ao instrumental regado à guitarra, bateria e baixo.
“Talk Too Much” mescla as notas agúdas da guitarra com vocais graves, que soam altos com a marcação do baixo. Sua letra é simples, na verdade. Fala sobre alguns jovens dilemas sobre estar ou não a fim de tentar coisas novas, e então se contradizer. Também é sobre dizer as coisas erradas nos momentos errados e não saber o que responder quando é necessária uma resposta.
“Maybe, Maybe” é uma balada acústica acompanhada de violão e voz. A composição gira em torno da incerteza que sua vida tem se tornado. O eu lírico se vê em meio à muitos “e se”, e acaba se perdendo em sua própria imaginação
“Give Up, I’m Not Into You” é de longe a melhor faixa do disco. O acompanhamento do baixo junto da guitarra e a bateria conseguem entregar à canção o ponto certo da sinceridade passada na letra, essa que fala sobre um assassinato. É principalmente voltada à toda essa fixação jovem e sobre como romantizamos o abuso.
“How/Decisions” também é acústica, acompanhada do violão. Trata-se de um interlude de pouco mais de um minuto. Esta funciona como uma Parte II de “Maybe, Maybe”, por se tratar também sobre seguir sonhos e sobre incerteza de seu destino. Seu arranjo no entando se conecta mais com a próxima faixa.
“Film School” é maravilhosa. Mais uma vez o baixo rouba a cena, junto do violão. O vocal grave de Matheus se funde ao insturmental, conectando-se perfeitamente nele. Sua letra transparece cada vez mais a personaldiade de Matheus, que pode ser um cara introvertido, mas não deixa que isso fique no seu caminho. A música fala sobre um encontro romântico e utiliza de artifícios cinematográficos para explicar este novo amor.
“Sad Signs” não é minha favorita do disco. O arranjo é ótimo, funciona bem, mas os vocais simplesmente somem em meio dele. O refrão insere muitos vocais que não se conectam diretamente com as notas tocadas pela guitarra. Sua letra entretanto é muito interessante. Esta fala sobre um processo doloroso de superação, principalmente quando o término é recente. Matheus utiliza de personagens para contar a história.
“To The Waterfalls” é outra balada, desta vez não inteiramente acústica, mas tão melancólica quanto – a melhor do disco. Sua letra sugere um reencontro, mas nas entrelinhas soa como um ansêio por paz.
O álbum é encerrado com “Summer”, sua 11º faixa. Esta é a canção mais longa do álbum, com 6:25 de duração, mas ao mesmo tempo é a que passa mais rápido. Seu instrumental é seguido de um violão clássico junto dos vocais simples do vocalista, com o desenvolver da música são inseridos outros instrumentos a fim de implementar o arranjo aos poucos.
A letra de “Summer” narra a história de um relacionamento que Matheus teve em sua adolescência. Ele se envolveu com uma garota de outro ciclo social e ela não sabia lidar com isso, e suas ações o machucavam.
Um fato interessante que eu não vi ninguém citar sobre as músicas da banda Carmen é que suas letras são compostas quase sem nenhuma repetição. Obvio que o refrão é repetido, mas há um investimento muito forte e perceptível nessa que é a alma da música. Enfim, só para que vejam que eu notei isso.
O álbum é o retrato de uma juventude de já não é mais tão caricata atualmente. São letras reais, mas muito segmentadas e em alguns momentos não é possível se conectar 100% com elas. Ainda sim todas muito bem escritas e poéticas, algumas um tanto cômicas até.
As músicas são muito boas e a banda consegue entregar uma certa originalidade em seu som, criando um conceito inovador na cena musical brasileira, principalmente no meio Alternativo. Carmen é o que os adolescentes do meio Indie precisavam.
Só não consegui não reprar em certas canções em que a voz não se une às notas tocadas pelos instrumentos. Não sei se o estilo musical da banda proporciona essa liberdade artística, até porque não é algo que estraga o álbum, mas em alguns momentos distoa um pouco.
Ouça na íntegra: